domingo, 21 de novembro de 2010

Li e recomendo:

Cachalote.

Obra publicada pela Quadrinhos na Cia,  selo criado pela Companhia das Letras para publicação de histórias em quadrinhos.

Criação de Daniel Galera e Rafael Coutinho. 

É uma bela e generosa edição com 280 páginas, medindo 27x21 centímetros. Espero poder ler mais quadrinhos nacionais em formato semelhante.

O nome do título é interessnate e intrigante.  Cachalote? A primeira vista, você não entende o porquê. Lendo descobri a alusão feita pelos autores da espécie baleia cachalote com  a espécie humana.  
Cachalotes machos nadam só e  às vezes  em pequenos bandos e unem-se apenas para acasalar. Cachalotes fêmeas nadam em bando e com seus filhotes; os filhotes machos a partir de determinada idade partem para nadar solitários e os filhotes fêmeas permanecem nadando juntas com suas mães.
Todos os homens da história têm esse comportamento. E as mulheres também.

Há mais semelhanças do que apenas serem mamíferos.

Cachalote narra seis (06) histórias:

Um escritor solitário e  deprimido que está unido à ex-mulher pelo o que os separou: a filha.
Um escultor que na solidão encara a si mesmo. Sua dura realidade e seus fantasmas.
Um astro do cinema chinês que vive tentando fugir da sua solidão.
Um casal de jovens que estão se separando por aquilo que os uniu.
Um playboy expulso de casa que descobriu que o dinheiro não compra felicidade e acaba só como e com uma cachalote encalhado na praia.
Uma senhora de idade avançada, grávida. Cumprindo o ciclo de vida de uma cachalote fêmea.

O que achei mais genial foi a forma como a narrativa das histórias foi organizada. Parafraseando a dedicatória escrita por Daniel Galera na minha Cachalote: "(...)  histórias sem comerço e sem fim", que foram dispostas de maneira não-linear em 3 (três) blocos tornou-a inusitada e foi uma surpreendente leitura. Estar lendo uma história e de maneira abrupta  ser interrompido e  ingressando imediatamente em outra, foi ousado. Porque poderia deixar o leitor confuso; porém , pra mim, a "organização" da aleatoriedade dos recortes momentâneos de cada história deixou-me concentrada ainda mais na leitura para saber o que de novo aconteceria ao virar a página.

 
Particularmente, gostei do traço de Rafael Coutinho; é despido de apelos estéticos. Ora limpo e simples, ora ricamente decorado, seguindo a necesidade visual de cada momento da história. E em determinados quadros - como na página inteira que exibe um grande quadro do personagem Ricardo olhando para trás após despedir-se do seu amigo Dante e sua namorada - seu desenho mostra-se das duas formas amalgamadas. Outro detalhe interessante é a nítida  diferença de uma história para a outra;  sendo Rafael o único desenhista em toda a edição, cuja semelhança estética das figuras sejam esperadas e a publicação estar em preto e branco, é perceptível ao olho o sair e entrar nas diferentes histórias. 

Cachalote é uma história em quadrinhos brasileira de excelente qualidade. 

Li e recomendo.