Posso falar com conhecimento de causa: apesar de ter feito
apenas 02 testes, posso afirmar: ser arte finalista é complicado! PUTA QUE
PARIU! Esse negócio de que ser arte finalista é fácil, basta apenas cobrir de
preto os desenhos... Isto é uma das maiores inverdades que conheço. E outro
detalhe: ser arte finalista é uma etapa necessária na produção dos quadrinhos
periódicos, cujos profissionais não são devidamente reconhecido do ponto de vista do mérito
profissional e pouco conhecidos pela população em geral. Analisando o
processo, arte final é tão necessária como a função do argumentista,
roteirista, desenhista, colorista, balonista e letreirista (e colocar letreiro
e balão é outro ofício desvalorizado).
Enfim... Em
defesa dos artes finalistas, convidei para uma entrevista Jonas Trindade atualmente
agencia do pela Space Goat que trabalha neste ofício.
Paloma Diniz: Tudo bem, Jonas?
Jonas Trindade: opa \o/
PD: Antes de quaisquer outras perguntas, por favor, fale
sobre o processo de arte final.
JT: Bem o processo em si começar, pelo menos para mim, de
duas formas: ou imprimindo a página, ou fazendo sobre o original a lápis; feito
isso, eu analiso todas as páginas e antes mesmo de finalizá-la - eu já faço
isso mentalmente – eu estudo qual a melhor forma de separar os planos, como
trabalhar as texturas, aonde eu posso acrescentar algo do meu desenho porque
arte finalista tem que saber desenhar; um arte finalista de destaque é um desenhista
também. Depois de toda a análise, eu escolho qual ferramenta usar: pincel, bico
de pena, caneta nanquim descartável ou até mesmo caneta técnica.
Desenho de Allan Jeff com arte final de Jonas Trindade |
Depois de feita a página eu
digitalizo ela em três (03) partes isso se for um A3 inteiro se for separada em
partes de A4. Isso ocorre quase sempre porque geralmente eu imprimo as páginas,
eu faço toda a parte de ajuste no photoshop. Primeiro eu monto a página, depois
limpo o canal da cor que foi impressa a página; eu uso azul como cor base pra
imprimir o lápis, ah sim! Importante: sempre que recebo o arquivo eu passo ele
de cinza para azul, bem feito to do processo do scan, eu ajusto os níveis da página
e deixo as linhas com mais texturas; passo para o formato bitmap e salvo em
Tiff zipado para ser enviado para o colorista. O arquivo em TIFF zipado permite
reduzir o peso do arquivo sem interferir na qualidade do mesmo; eu faço todos
os meus scans com 600 dpis de resolução, salvo nesse formato primeiro o que
chamamos de arquivo em alta e depois eu passo pra tons de cinza e salva em JPEG
bem leve o que chamamos arquivo em baixa que vai para o editor aprovar. Nunca
mandem arquivos gigantes para o editor aprovar.
Página teste de arte final de Jonas Trindade para Birds of Prey |
PD: Como você se tornou arte finalista?
JT: Bem, foi engraçado, pois estudei como Guilherme Balbi,
meu amigo e desenhista de quadrinhos; nessa época vi meu professor arte
finalizar um desenho e fui fisgado, parei e falei vou ser “inker”; meus primeiros traços com pincel foram sobre desenhos do
Balbi nessa época isso em 2004. Depois disso fui aprimorando minha técnica;
hoje eu sei usar praticamente de tudo para fazer arte final.
PD: Eu já escutei comentários afirmando que a profissão de
arte finalista estava se extinguindo. Qual a sua opinião sobre esta afirmação?
JT: olha é quase que impossível a profissão acabar, mesmo
porque nem todos os desenhistas sabem fazer um lápis limpo e certinho, hoje a
muitos recursos como fazer a arte final digital ou tentar escurecer o traço,
mas mesmo assim é inferior ao bom e velho pincel, é claro se você souber usar
uma mesa gráfica bem conseguirá finalizar como se estivesse usando um pincel,
mas acabar não eu duvido, pode haver novas formas de se finalizar o desenho,
mas sumir nunca.
A esquerda, página do Hulk apenas no lápis, e a direitas, arte finalizada por Jonas Trindade |
PD: Quais são as ferramentas para fazer uma boa arte final?
JT: Primeiro saber desenhar bem; todo arte finalista de
destaque sabe desenhar. Segundo não ter
medo de experimentar novas técnicas ser humilde e escutar as boas e, mas
críticas e entender que tudo tem sua hora; isso de forma resumida.
PD: Vamos falar um pouco sobre você. Fale sobre Jonas
Trindade.
JT: Mineiro da cidade de Contagem próximo a BH, solteiro, 30
anos (risos), arte finalista de Comics, pescador inveterado, de poucas
palavras, sempre podendo estende a mão pra ajudar, mas não se enganem como todo
bom mineiro e muito desconfiado.
PD: Como foi que você interessou-se pelo universo dos
quadrinhos?
JT: foi de moleque com quadrinhos da Monica aliás, todo
mundo começa lendo Monica (risos). Depois disso arrumei umas HQs de terror da
hora do pesadelo desenhadas pelo Alfredo Alcala, antigo isso... e ai, eu fui me
interessando por quadrinhos de super heróis, mas na época eu já lia Raça das Trevas do Clive Baker entre
outros tipos de publicação, mas foi bem natural agora migrar de fã pra trabalhar
com isso. Foi um pouco mais tarde, quando a Editora Image invadiu o Brasil, e
se tinha mais informação de quadrinhos, muitas delas publicadas pela extinta
revista Wizard. O bacana é que naquele tempo eu lia uma matéria sobre
quadrinistas brasileiros fazendo comics pros EUA; se não me enganou foi na
época quero Marcelo Campos entrou nossa achei a notícia fantástica depois
vieram Deodato Jr., Roger Cruz e outros mais, mas não se tinha uma estrutura
pra iniciar novos artistas.
PD: Cite algumas HQs que você trabalhou e no que você está
trabalhando em que quadrinhos atualmente?
JT: Já trabalhei pra revista Elders of Runestone, Red
tornado DC Comics, Nick Fury Marvel, Transformers Editora IDW, Teen Titans da DC
Comics, entre outras. Atualmente estou trabalhando como Allan Jefferson na HQ Devil is Due in Dreary e vou iniciar um
pra Dark Horse. O da Dark Horse ainda
não pode falar.
Trabalho atual de Jonas Trindade juntamente com Allan Jeff |
PD: você pretende trabalhar como desenhista? Ou melhorar-se
e continuar como arte finalista?
JT: olha tudo dando certo eu viro desenhista (na etapa de
criação da história), mas até eu me acertar, eu continuarei com as inks, como meu processo de arte final tá
mais adiantado agora, é ir estudando desenho aos poucos.
PD: Você está no FIQ por estes dias? Você encontrou outros
arte finalistas?
JT: Eu estive lá todos os dias. Foi muitoooooooooooooooooo fodaaaaa, conheci
muita gente praticamente todos os meus amigos novos da web e mais uma pancada
de profissionais da área; só tinha nego
foda lá! Poxa Paloma você ia pirar, viu? Encontrei lá meus amigos que
trabalham como arte finalistas Eber Ferreira e Julio Ferreira (e olhe que eles
não parentes! (risos). Tinha no 7º FIQ, um estúdio ao vivo aonde podíamos ir e trabalhar
um pouco mostrar partes do processo pra galera que vinha ao evento poder ver
como é feito uma HQ.
Galera reunida no F.I.Q. em Belo Horizonte. |
PD: Você tem acompanhado a produção brasileira de
quadrinhos?
JT: um pouco; nesta edição do FIQ tinha muitos
independentes; inclusive eu recomendo a trilogia, dos meus amigos do Sul. O
fanzine Supreme do João Azeitona, Mateus Santo Louco e Walter Pax.
PD: E pra finalizar: sofres do mal que aflige os
desenhistas: você tem escoliose?
JT: hahahahaha... Se eu tenho, eu nem sei, viu? Mas as
costas doem depois de um tempo trabalhando; preciso me movimentar mais (risos).
Agradecimentos:À Caroline de Góes pelas belas fotos do FIQ 2011em seu facebook.
A Kare Hedebrand que também postou belas fotos do FIQ 2011 no seu facebook.
Blog do Jonas: http://luqkhyjonas.blogspot.com/
Outra entrevista dele: http://www.multiversodc.com/v2/2008/12/novos-talentos-jonas-trindade/