Publicado originalmente no posfácio da edição da publicação Amores Plurais : Quadrinhos e homossexualidade.
Tive a
oportunidade impar de ler as dezoito (18) histórias em quadrinhos e tiras do
concurso da Editora Marca de Fantasia cujo tema é Quadrinhos e
Homossexualidade. Dentre HQs inscritas, havia produções nacionais e
internacionais apresentadas para seleção. Diversas abordagens da pluralidade
sexual que representam situações do cotidiano que para os homossexuais ainda há
barreiras sociais, religiosas, culturais, psicologias. Abordagens poéticas e
filosóficas na narrativa numas HQs, noutras uma abordagem simplória da estética
e da narrativa com grande potencial. Dentre todas, algumas que chamaram minha
atenção por algumas peculiaridades em meio às outras.
A história em
quadrinhos Joca e Juarez produzida
por Henrique Sampaio e Francisco Luis, de Juazeiro do Norte – CE abordou o tema
da homossexualidade masculina com linguagem de fácil entendimento e branda para
temas fortes como questões sociais e religiosas que geram conflitos
psicológicos. Sua narrativa é no estilo conto ilustrado, com linguagem rimada
que faz alusão aos cordéis tipicamente nordestinos. Os desenhos num estilo que
remete ao cartum com clareza na comunicação do contexto das cenas.
A HQ
intitulada Minha Flor, Minha Rosa
produzida por Amaro Braga e Janaina Araújo das cidades de Recife-PE e
Maceió-AL, aborda tema da homossexualidade feminina no estilo de desenho mangá.
Diga-se de passagem, com bastante domínio de técnica e linguagens típicas de
estilo. Seu tema é questões sociais e legais que são barreiras para os
homossexuais e reflexos psicológicos destes no comportamento dos indivíduos que
compõem a história.
As tiras
seriadas de Camila desenvolvida por
Julie Albuquerque de Ibiúna-SP que retrata uma personagem transexual (que
intitula a série) abordam os mais diversos contextos vividos nas
particularidades do universo transexual. A linguagem verbal da personagem
possui palavras e gírias particularmente utilizadas por homossexuais. Seu
estilo de desenho assemelha-se ao estilo mangá, o que dá liberdade nas
exagerações das expressões facial, comunicando com proporção adequada para
determinados contextos.
A história em quadrinhos intitulada Eu e Ele produzida por Pedro Machado
possui um excelente domínio da narrativa gráfica apenas visual que aborda a solidão,
que um homossexual masculino vive por pressão social. Outra história em
quadrinho que aborda o mesmo tema da solidão vivida pelo homossexual visto pela
ótica feminina, é a HQ de Ana Ribeiro de Portugal, cuja narrativa depressiva
trás a tona todo o sufocar dos sentimentos num breve monólogo.
As tiras de Ber the Bear de Rafael Lopes do Rio de
Janeiro – RJ tem uma proposta educacional e informativa sobre um grupo
particular de homossexuais masculinos que se autodenominam ursos por características estéticas. Sua linguagem é simples no
visual por opção. Não há desenvolvimento de cenário porque o importante é o
texto dos diálogos de dois personagens e em sinergias com estes diálogos estão
diversas e divertidas expressões faciais num estilo cartum de representação
muito bem desenvolvida.
Aqui da
Paraíba, duas HQs chamaram minha atenção. A de Samuel Góis que tem um jogo
narrativo entre imagem e textos inusitado com uma pitada poético-filosófica,
bastante atrativa que proporciona várias maneiras de leitura que usa dos temas
da Natureza para abordar as questões da sexualidade. E a de Shiko intitulada Sobre o Meu e os Outros (sou suspeita
para falar de Shiko). Mas o porquê que esta HQ chamou minha atenção de forma
acentuada com relação às outras, foi o fato de ser uma história cujo tema é
homossexualidade que não possui temática político, religiosa, psicológica,
social, educativo, poético ou filosófico. É apenas um conto. Sensacional. Completamente diferente dos outros inscritos
no concurso e como um dia se espera que histórias em quadrinhos, cujo tema é
homossexualidade, no Brasil seja mais uma opção de história em quadrinhos; e
não uma categoria a parte, ou algo novo, polêmico.
Esta é a
proposta da Editora Marca de Fantasia com o Concurso Quadrinhos e Homossexualidade.
Que a diversidade sexual seja uma temática das histórias em quadrinhos como
qualquer outra: seja algo do cotidiano e respeitado.
Paloma Diniz
Pesquisadora e membro do Grupo de
Pesquisa Imaginário!
Artista
da agência Space Goat Productions, LLC.
Professora do Studio Made in PB
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