Texto originalmente publicado no F.A.R.R.A.zine #20.
Danilo Beyruth fez uma senhora HQ com o nome de Bando de Dois. Uma história classificada como um bangue-bangue à brasileira. Bando de Dois foi um dos trabalhos de quadrinhos contemplados em 2009 pelo ProAC - Programa de Ação Cultural, da Secretaria da Cultura do governo do estado de São Paulo.
Considerado por leitores em vários sites que escrevem sobre histórias em quadrinhos ou que reservam espaço para as popularmente chamadas de HQs, Bando de Dois foi considerado o melhor quadrinho de 2010 ou esteve em todas as listas dos melhores quadrinhos do ano passado.
Esta narrativa gráfica conta a seguinte história: em fuga, Tinhoso, um dos únicos sobreviventes da chacina que matou o bando de cangaceiros do qual fazia parte, segue a esmo pela caatinga até desmaiar de cansaço. Em meio à noite, ele teve a visão de seu comandante que pede por liberdade e justiça. Obedientemente, ao raiar do Sol, ele cumpre as ordem do falecido chefe do bando. No caminho encontra outro sobrevivente: Caveira di Boi, e esse bando de dois seguem em busca de seus objetivos.
Bando de Dois é uma generosa edição no tamanho 28x21cm lançado pela Zarabatana Books. O desenho de Danilo Beyruth é bastante expressivo; os enquadramentos feitos por ele dão aos quadrinhos da narrativa o plano, a luz e a intensidade necessária para a total e clara compreensão da história. Há momentos da narrativa com seqüências compostas apenas com imagens que não há necessidade de palavras. Se houvesse palavras quebrariam a fluidez da poesia imagética criada ao deslizarmos os olhos pelas páginas.
A pincelada de Danilo é algo impressionante. Quando folheei a primeira vez não percebi que a iconoplastia havia sido feita com pincel de tão firme que é a sua linha.
O detalhamento das roupas, dos cenários e a caracterização de cada um das personagens que compõe o enredo, evidenciam a pesquisa e estudos preparatórios para a realização desta obra ricamente caracterizada no sertão nordestino na década de 1950, árido, seco e, infelizmente até hoje, esquecido pelo poder público da nação brasileira.
Já caminhei pela caatinga aqui na Paraíba e recentemente no interior da Bahia; e ao observar os cenários de Bando de Dois, particularmente, eu relembrei o calor de matar que faz durante o dia e o frio de doer os ossos que faz à noite, o som do vento ao passar pela vegetação, o comportamento simples e rústico do povo do sertão.
Outro detalhe interessante é que Danilo Beyruth coloca na contra capa o tempo de leitura aproximado e o público alvo ao qual se destina seu trabalho. O que para mim demonstra atenção, carinho e respeito pelos leitores.
Bando de Dois é uma excelente história em quadrinhos de aventura tipicamente brasileira feita por um brasileiro para o público brasileiro.
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