sábado, 2 de abril de 2011

Killoffer: Quando Tem Que Ser, Quando Tem Que Acontecer

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO FARRAZINE #20              

              Certo dia, não me lembro qual, em meados do mês de outubro de 2010, meus amigos me convidaram para uma noite de autógrafos que aconteceria aqui, em João Pessoa na Paraíba, com Killoffer.
               Perguntei do auge da minha ignorância: - Quem é Killoffer?
               Eles responderam: - Um quadrinista francês, que virá pra cá lançar um quadrinho seu pela editora de Henrique.
               Um novo mundo abriu-se diante dos meus olhos a partir daquele instante.
               Falavam eles do Seminário “Quadrinhos: reflexão e paixão” organizado pelo Prof. Dr. Henrique Magalhães (do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGC) da UFPB, do Projeto de Extensão do Núcleo de Artes Midiáticas - NAMID) e diretor da editora Marca de Fantasia que em parceria com a Aliança Francesa de João Pessoa, e a Comic House realizariam este evento entre os dias 2 e 4 de novembro de 2010.
No dia 02 de novembro, à noite, seguimos para a sede da Aliança Francesa para a abertura da exposição “Ils rêvent le monde: images sur l’an 2000″ (Eles sonham o mundo: imagens sobre o ano 2000). Chegando lá  deparei-me com uma bela e agradável exposição sobre quadrinistas franceses.
               Dos quadrinhos franceses posso dizer que conheço Astérix de Albert Uderzo e René Goscinny, Barbarella de Jean-Claude Forest, Tintim de Hergé, e o belíssimo trabalho de Moebius. Porém, sobre Patrice Killoffer, absolutamente nada!
               E lá estavam em exposição no salão da Aliança Francesa alguns destes citados acima, Killoffer, entre outros que não conhecia.
               Como o francês é um idioma neolatino como o português, consegui compreender um pouco dos textos que acompanhava as imagens. Pois do francês eu não falo NADA!!!
               Um pouco mais tarde, chegou Killofer à exposição. A primeira impressão que tive foi de um homem sereno e alegre disposto a conversar com todos do jeito que desse, em francês, inglês ou com mímicas. Não ousei falar com ele em inglês, não sei falar francês. Muda, no meu canto, eu fiquei.
               Patrice Killoffer é escritor e artista de quadrinhos; estudou na Escola de Artes Aplicadas Duperré em Paris. Em 1981 (ano em que eu nasci) criou suas primeiras páginas. Em 1987, participou da edição pas un seul revista com Jean-Yves Duhoo. Posteriormente, publicou nas revistas Globof, Lynx, e Labo, que foi publicado pela Futuropolis. Em maio de 1990, juntamente com Jean-Christophe Menu, David B., Matt Konture, Lewis Trondheim, Stanislas e Mokeït, Killofer fundou a editora L´Association. Que revelou Marjani Satrapi (autora de Pérsepolis) e Joann Sfar (autor de O Gato do Rabino) e revolucionou a cena dos quadrinhos franceses. Killoffer produziu também ilustrações para os jornais Le Monde e Libération e possui inúmeras publicações.
                E sua obra chegou até mim.
                No dia seguinte, 03 de novembro, após sair do trabalho, segui para a Comic House para o lançamento de mais uma de suas obras: Quando Tem Que Ser publicado pela editora Marca de Fantasia em parceria com a L´Association; é uma edição que reúne histórias em quadrinhos de Killoffer publicadas de 1992 a 2004.
                Parafraseando Henrique Magalhães, “(...) Quando Tem Que Ser é um álbum que flui como as boas obras de quadrinhos. Por vezes, Killoffer abre mão do texto em sua narrativa. Mas há histórias em que ele recorre massivamente ao texto como força expressiva, chegando próximo ao conto ilustrado. Nada disso, porém, tira o vigor da récita de Killoffer, que domina com primor a arte de contar histórias.”
               E lá estava eu, timidamente no meu canto, a observar Killoffer. De maneira despojada, mediante ao calor típico dos dias de verão que fazia naquela noite, Killoffer elegeu um dos bancos do Empresarial Esquina 200 fazendo dele sua mesa de autógrafos. Se nós estávamos sentindo calor, imagine um francês recém-chegado do outono europeu, há apenas 48 horas, numa cidade litorânea de clima quente e úmido a poucos quilômetros da linha do Equador! Mas ele continuava sereno e alegre a autografar cada exemplar.  De maneira bem peculiar, ele desenhava juntamente com seu autógrafo nas contracapas do quadrinho, inspirado pelas primeiras impressões dos que se aproximavam para receber o registro.
               Com maestria, ele mergulhava suavemente a pena no tinteiro, traçava de maneira irretocável num único deferido golpe sobre o papel, desenhos na contra capa da edição para cada um.
                Foi lindo observar esta cena.
                E chegou a vez do meu autógrafo! Estava nervosa, agitada, ansiosa! Ele leu meu nome com sotaque francês: - PalômÁ. Eu afirmei em ‘portunhol’: - PaLÔma. Ele apontou para o rabisco que faço no fim de meu nome. Com mímicas eu comuniquei que aquele rabisco não significava nada (ainda bem que ele compreendeu). E pôs-se a desenhar. Rapidamente ele traçou no meu exemplar um desenho que representa, para mim, ele voando de maneira livre e majestosa a surpreende a mim, “la pequeña paloma”. E, de maneira gentil, ele pede desculpas à ave que não compreende o vôo imaginário do artista. Após o término do desenho, ele me entregou sorrindo a edição autografada. Eu agradeci em português, ele agradeceu em francês e curvou-se como um gentil cavalheiro. Curvei-me para ele em reciprocidade a sua generosidade.
               No terceiro e último dia do seminário, Killoffer palestrou sobre produção de histórias em quadrinhos, perspectivas de um projeto editorial independente frente ao mercado, e sua experiência no ramo. Infelizmente, eu não pude participar, soube por meus amigos que estiveram em todos os momentos desta passagem de Patrice Killoffer em João Pessoa antes de seguir para o Rio Comicon.
               Se eu fosse uns 10 anos mais nova e se não tivesse desnudado minhas opiniões artísticas, não aproveitaria os belos momentos da visita de Killoffer. Não apreciaria a sua obra que possui uma particularidade: a simplicidade quase pueril de seu traço no primeiro plano é como um véu que esconde a grandiosidade da composição gráfica de cada quadrinho que ele desenha. Para os olhos velozes e desatentos, a sua arte passará despercebida.
               Guardarei comigo a bela lembrança do sereno e alegre cavalheiro francês juntamente com sua bela obra.
                E de uma coisa tenho certeza: os fatos ocorrem em nossas vidas quando tem que ser, quando tem que acontecer.

Paloma Diniz.
João Pessoa, 08 de dezembro de 2010.

Agradecimentos:

À generosidade da Aliança Francesa de João Pessoa.
À prestativa e disposta Comic House.
Ao gentil e atencioso Henrique Magalhães.
Ao fotógrafo Adriano Franco e à Mikael de la  Fuente (diretor da Aliança Francesa de João Pessoa e nosso tradutor de plantão) que registraram com lindas fotografias este evento.  


Um comentário:

Anônimo disse...

Cara Paloma, adorei seu post, a maneira como vc descreveu sua experiência e tudo mais, foi um prazer ler. Obrigado.